Não se pode negar que o mundo vive um fato inusitado: há uma busca pelo
Transcendente. Milhões de pessoas manifestam o desejo de um encontro pessoal com o Ser supremo. É o fenômeno religioso acontecendo. Battista Mondin já diz que a humanidade desde o seu início tem desenvolvido intensamente uma atividade religiosa e cultuado alguma forma de religião (MONDIN, 2005, p. 48). Portanto, a religião desde o primórdio da existência humana tem estado na vida do homem e da mulher.
Mais qual o significado de religião? Bem,
O termo “religião” vem do latim religare, que significa “ligar, unir”. De fato, a religião é um conjunto de mitos (relatos, textos sagrados, símbolos), ritos (preces, ações, sacrifícios) e normas (mandamentos, preceitos, regras) com o qual o homem exprime e realiza seus contatos com Deus (Mondin, 2005, p. 48).
Percebe-se agora a sua importância para o homem e a mulher: ser ponte de ligação entre o divino e o humano, ser meio de promover o encontro da pessoa com o Transcendente. Esse é o seu papel. Contudo, cada religião tem tido o atrevimento de se achar a única religião verdadeira, a única portadora da verdade, a única fundada por Deus combatendo energicamente todas as demais, vendo-as como inimigas e obra do maligno e negando para os fiéis das demais religiões a felicidade eterna. Há, portanto uma verdadeira guerra entre as religiões. Fiéis de religiões diferentes têm se agredido, têm se matado ao longo do tempo e tudo isso feito em nome do Ser Supremo no qual crêem piamente está agindo, realizando assim a sua vontade. Será mesmo vontade de Deus esta guerra entre as religiões? Será que Deus exulta de alegria com essa intolerância religiosa?
Evidente que não, Deus não tem religião e nem preconceito. Ele não exclui ninguém por pertencer ou não ao um determinado credo. Se isso não fosse verdadeiro ele não seria pai, não seria mãe, mas carrasco, pois que culpa tem alguém que nasceu, por exemplo, na Índia, na China, na África onde a religião é outra. Deus seria cruel ao condenar quem quer que seja por não pertencer a uma determinada religião e se isso não for levado a sério se estará levando uma falsa imagem de Deus. Quem tem religião, quem tem preconceito, quem exclui é o ser humano quando se fecha, quando vê a religião que professa como única, como a perfeita. Para Deus todas as religiões são perfeitas quando fazem tudo aquilo que contribui para a vida e a dignidade dos seus filhos e filhas como bem diz Tiago capitulo 1 versículo 27: Religião pura e sem mancha diante de Deus, nosso Pai, é esta: socorrer os órfãos e as viúvas em aflição, e manter-se livre da corrupção do mundo. Com certeza em todas as religiões o que se ensina é o amor, é fazer o bem pelo outro, é praticar a justiça e tudo isso é do agrado de Deus por isso é hora de se começar a olhar para as outras religiões com um novo olhar. Vendo-as não como inimigas, mas como aquelas que de forma diferente está contribuindo para a construção do reino de Deus. Porem, o que tem acontecido é totalmente o contrário, por exemplo, quando uma pessoa que vivia uma vida desregrada de repente encontra um amigo e ao afirmar que se libertou, que agora encontrou vida e isso por está freqüentando a “Igreja A”, em vez desse amigo se alegrar com sua libertação, quer é convertê-lo à sua “Igreja B” afirmando a “Igreja A” é falsa, que ensina uma falsa doutrina. Outra coisa que acontece freqüentemente ficando estampado esse ver as outras religiões como inimigas é quando se faz um trabalho missionário não para anunciar Jesus, mas para combater essas religiões. Tudo isso acontece porque está impregnada em cada pessoa a idéia de que a única religião verdadeira é aquela a que ela pertence de modo que as demais são falsas. Há ainda nas pessoas resquícios de um cristianismo que excluía. Não obstante, se deve romper com essa mentalidade de que só há salvação numa única religião. O Concílio Vaticano II já aconteceu. Sem dúvida alguma houve nele um sopro do Espírito e a Igreja católica começou a ver as outras religiões com outros olhos por isso afirma:
Da mais remota antigüidade, até os dias de hoje, todos os povos têm certa percepção da energia latente na vida e nos acontecimentos humanos. Reconhecendo assim, de algum modo, a divindade, o Pai. Esta percepção e este reconhecimento correspondem, em profundidade, a seu senso religioso. A religião, desenvolvendo-se em conexão com a cultura, procura exprimir a resposta a estas questões fundamentais por intermédio de noções mais apuradas e numa linguagem melhor elaborada. (...) A Igreja católica não rejeita o que é verdadeiro e santo em todas as religiões (Concílio Ecumênico Vaticano II Declaração Nostra Aetate sobre a relação da Igreja com as religiões não-cristãs, 2004, p. 4 e 5).
Já é hora de se romper com a intolerância religiosa e com a idéia de que religião salva. Quem salva é Deus. Religião seja ela qual for, é apenas ponte de ligação, de união entre Deus e o ser humano. A Deus não interessa se a pessoa é da “religião A” ou da “religião B” mas se ela está se convertendo, ou seja, está deixando de praticar a perversidade, a violência, a injustiça... Eis o que deseja o transcendente “mudança de vida”. Já é hora de se viver a unidade que Deus quer. Não a unidade de uma única religião, mas a unidade na diversidade/ pluralidade. Unidade não precisa ser uniformidade. Pode-se ter religião diferente, orar diferente, cantar diferente (Pe. Zezinho “Iguais”) , mas se viver uma verdadeira união no respeito mútuo. Já é tempo de se aceitar a existências de outras religiões e se livrar do desejo de querer extingui-las.
O católico deve amar a sua religião e respeitar a do outro, o budista deve amar a sua religião e respeitar a do outro, o protestante deve amar a sua religião (Batista, Presbiteriana, Luterana, Assembléia de Deus...) e respeitar a do outro. Cada pessoa, seja qual for a sua religião deve viver a regra de ouro existentes nas religiões
Ø Cristianismo: Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles (Mt 7,12)
Ø Budismo: “Não atormentes o próximo com aquilo que te aflige Udana- Varga 5:18)”
Ø Hinduísmo: “Esta é a suma do dever: não faças aos outros aquilo que se a ti for feito, te causará dor – Mahabharata(5:15:17)”.
Ø Confucionismo: “Eis por certo a máxima da bondade: Não faças aos outros o que não queres que façam a ti.” Analectos XV, 23
A regra de ouro é indispensável para se viver o pluralismo religioso que chegou para ficar. Além da regra de ouro também é fundamental o diálogo. Este mostrará que há muitos pontos comuns entre as religiões. Mostrará que existem muitos mais coisas que une do que separa, como por exemplo, a defesa da vida e que não é preciso fazer parte da religião a que se pertence para fazer o que é da vontade de Deus, ou seja, lutar contra tudo o que aliena o ser humano
João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós lhe proibimos, porque ele não anda conosco”. Jesus lhe disse: “Não lhe proíbam. Pois quem não está contra vocês, está a favor de vocês.” (Lc 9,49-50)
Deus é de todos os povos e sua face aparecerá na medida em que cada religião respeitar a outra mais do que em seus discursos.
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS:
MONDIN, Battista. Quem é Deus? Elementos de teologia filosófica. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005
Concílio Ecumênico Vaticano II Declaração Nostra Aetate sobre a relação da Igreja com as religiões não-cristãs. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2004
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